Revolution will not be televised

Em 2002, após o endurecimento de Chavez (presidente eleito em 1998 e 2000) nas políticas estatizantes do petróleo, a mídia e setores empresariais iniciaram uma forte campanha de oposição. Em abril, manifestações e greves (muitas delas através de lockout como vimos recentemente por aqui) culminaram num golpe que colocou um empresário no poder. Entretanto, na madrugada do golpe, a mídia silenciou, não queria mostrar os conflitos, mas cantar uma vitória serena em cima de uma falsa renúncia de Chavez. Não contavam com dois documentaristas irlandeses que registraram por acaso aquele momento turbulento e produziram “A revolução não será televisionada”, ironizando o fato de que o golpe, este sim foi televisionado, em contraponto à massiva midiatização da supostamente desastrosa política de Chavez.

Uns 30 anos antes, o artivista negro Gil Scott-Heron já vaticinava: the revolution will not be televised. E quase 20 anos depois, talvez isso ainda seja verdade. Mas o que está sendo televisionado agora então?

Quem é Juan Guaido – ou deveríamos dizer Johnny Guido? Segundo diversas fontes, em 2005, três anos após aquela tentativa de golpe durante a qual cursava Engenharia, Guaido era enviado a Belgrado junto com outros colegas, à escola de revoluções não-violentas CANVAS, mentora de revoluções em várias ex-repúblicas soviéticas e também em países árabes. O financimento de peso do bloco capitalista internacional a instituições como a CANVAS não é segredo. A partir daí, quem pesquisar conseguirá rastrear os passos de Guaido suficientemente. O que importa é que essas ditas revoluções são fabricadas e manipuladas para serem televisionadas! Para saírem bem na foto, no vídeo, no face, no insta, ocultando trocas de regime que de suaves, coloridas ou democráticas só tem a aparência mesmo. Não é bonito ver Guaido ser a atração principal de show internacional e em seguida emendar uma turnê pela América Latina?

Esses golpes lentos se legitimam usando a demagogia da democracia, geralmente divulgada como oposto de regimes estatizantes (leia-se ditatoriais). Esta polarização é mais uma da série constante do programa de emburrecimento de massa que está no seio dessas revoluções: democracia x ditadura, direita x esquerda, fato x fake.

Recentemente a polícia do Rio resolveu adotar o “domínio do fato”. Se determinada situação acontece nos limites de certa região, o chefe do tráfico local é tido por responsável. Curiosamente isso é algo muito próximo do que permitiu condenar Lula ou depor Dilma. Claro que, quando essa grosseira simplificação não interessa, vemos toda sorte de tecnicalidade capaz de isentar o mais flagrante crime. Por que Bolsonaro não domina fato nenhum se a corrupção está no coração da sua família? Por que não acham quem dominasse o fato no caso Marielle?

Ora, é fato que a Venezuela vive uma crise humanitária. Mas então de quem é o domínio do fato? Do presidente: cai Maduro! Mas e os embargos norte-americanos ao país cujo governo insiste em controlar seu petróleo? E os movimentos internos de lockout (tais como vimos no Brasil)? Ora, é fato que Maduro teve uma eleição amplamente majoritária em 2018. Mas por que? Porque sua ditadura reprimiu os movimentos de oposição ou porque a oposição estrategicamente se retirou do pleito para justamente forjar um estrangulamento? Sem responder assertivamente a essas perguntas, observamos que quem domina o fato muitas vezes é o mesmo que domina o fake, e a linha entre os dois é muito mais flexível do que gostaríamos de compreender. No final das contas a questão é o que deve ou não ser televisionado. Também José de Abreu acaba de se declarar presidente do Brasil e não está recebendo a devida cobertura!

Deixe um comentário