Acho ótimo que a liturgia natalina católica (para pegar a modalidade cristã mais icônica e infestada de simbolos em contraste com os movimentos reformados) seja tão simples e comedida em comparação com o cansativo tríduo pascal. Compare-se ainda a leveza do Advento com o peso da Quaresma… Mas essa simplicidade é estratégica. É preciso banalizar o acontecimento fundamental (a Encarnação) para não perturbar a lógica comercial que sustenta o tipo hegemônico do cristianismo. Não se pode olhar por muito tempo o Cristo humano, demasiadamente humano sob pena de suspender por puro amor (e hereticamente) todo o legalismo expiatório da constitutiva imperfeição da vida. Por outro lado, é preciso “pascalizar” esse momento com a troca de presentes para apagar a prodigalidade, o excesso que um homem sacrificado ao nada divinamente representa. A incomensurabilidade de Cristo (ou como Zizek, sua monstruosidade), que é a de “qualquer” homem, deveria estar quitada desde os Reis Magos.
Dito isso, viva o Natal! – meu problema mesmo é com a Páscoa (a “passagem”, isto é, o ticket, a taxa…)
Filmografia sugerida para a data: A última tentação de Cristo e qualquer Monty Phyton.